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Quem sabe do amor (Part. II)

- Dandara, você é tão misteriosa.

- Você que vê mistério em tudo, querido Ruslan.
- Será o mistério uma característica do amor?
- Não sei, mas li em livro que o mistério torna a vida mais excitante,  concordo com Wilde.
A vida quando exposta demais, perde o encanto. Faz parte da curiosidade a caçada, procurar é algo cálido. A descoberta é fascinante, mas se mostro tudo, acabo a caçada. E uma caçada findada, é uma aventura passada.
- O que você sugere, então? Vocês mulheres sempre querem manter o mistério.
- Não concordo contigo, conheci mulheres pouco misteriosas e homem misteriosos demais.
Algumas pessoas preferem guardar silêncio, outras costumam ser transparentes em tudo que fazem. Eu, por exemplo, procuro ser sincera, pois, ser misteriosa é diferente de omitir alguma informação.
- Dandara, pare com essa confusão! Você já colocou mais conceitos, e eu só quero saber se o mistério é uma característica do amor!
- Calma, Ruslan. Eu só estou tentando esclarecer essa diferença entre silêncio e "omissão".
- Tudo bem, esqueça a omissão! Me fale sobre o mistério.
- Eu tenho medo de você. Às vezes você me trata como uma espécie de oráculo, eu não sei de tudo, Ruslan!
- Eu sei que você não sabe de tudo, mas você se aproxima das coisas que penso, concordo muito contigo.
- Ah,  gostas do conforto da convergência?
- Você não?
- Não sei,  Ruslan. Mas, essa coisa de mistério é complicada.  Sabe,  Wilde diz que torna a vida moderna excitante. Vejo isso como uma crítica velada e sutil.  Wilde faz isso tão bem!
- Você faz questão disso,  Dandara? Gostas do mistério? 
- Eu gosto, sou misteriosa em muitos momentos, mas não acredito que seja uma característica primordial para viver na sociedade moderna.  
Gosto de olhar as pessoas,  dizem que é minha principal característica.  Faz pensar... 
- O mistério não está ligado ao silêncio ou está?
- Não. O excesso. Ele é o contrário da exposição. Entendes?
Por exemplo,  você descobriu por acaso que toco vários instrumentos de corda e ficaste estupefato com a revelação. Nos aproximamos, pois, gostas da opera "La Traviata".
- Sim. Penso que Vendi retratou a vida de minha mãe ao compor está belíssima obra.
- Verdi era um homem misterioso, assim como Tchaikovsky.  Sabia? Ocorreu uma série de morte na vida de Verdi, em pouquíssimo tempo ele havia perdido toda sua família. Ficou um pouco recluso.  Mas não foi solitário,  pois tinha a melhor companhia que um homem pode ter. Ele teve a música, sua fiel companheira.  Mas sua vida foi regada de simplicidade e mistério.  
- Mistério é aquilo que nem todos sabem, só alguns?
- Não. É quase que oposto,  é o esconder-se de si mesmo dentro de si.  É deixar o café com gosto de café,  e não de açúcar.  É saber quem é o outro de tanto observar,  mas ainda perguntar sua opinião.  É mostrar 80% quando poderia mostrar 100. 
Ele torna o amor mais atraente,  mas não é uma característica deste primeiro. 

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